O livro dos calotes
Eu tenho um livro... não um livro mais ou menos normal, como qualquer um das centenas que, entre velhos e novos, possuo na minha modesta estante, mas um livro que considero especial. Este livro, grosso e estreito, marcado pelo tempo, não foi escrito por autor de nomeada nem composto por letra de forma. Não foi impresso em tinta indelével mas escrito à mão e a lápis e com o lápis que estava à mão. Trata-se de um livro igual a muitos outros que nas mercearias e tabernas e mercearias (lojas) das nossas aldeia serviam para apontar as contas, os calotes, as dívidas, o fiado, ou o que queiram chamar ao que resultava de compras que se não pagavam na hora ou a pronto. Hoje em dia, tudo isso é mais fino e chama-se de débito ou passivo e é registado num qualquer programa informático. A um caloteiro já não se chama esse palavrão e diz-se sofisticadamente que está em falência técnica ou em insolvência. Os portugueses estão atolados em dívidas e o incumprimento das obrigações financeiras é geral,