Leite pasteurizado
No início da década de 60, precisamente em Dezembro de 1960, este nostálgico cartaz publicitário já chamava a importância dos pais para a defesa da saúde de seus filhos quanto à utilização do leite, proclamando o pasteurizado como “o único cientificamente tratado, sem conter micróbios patogénicos, garantindo pureza e qualidade”. Esta era uma garantia assumida pela Câmara Municipal de Lisboa. No cartaz, precisamente no gráfico da garrafa, o anagrama C.P.L.L. Não conseguimos apurar a que se referia; provavelmente a Cooperativa de Produtores de Leite de …(Lisboa? Loures?). Fica a incógnita e a dúvida de que, porventura, fosse possível no início dos anos 60 a cidade de Lisboa ter uma cooperativa de produtores leiteiros.
Este cartaz e a sua mensagem remetem-me para os meus tempos de criança e para uma época em que os meus pais tinham algumas cabeças de gado, incluindo vacas leiteiras. Recordo-me, por isso, do nosso pequeno almoço incluir leite natural, muitas vezes ainda quente, acabado de sair da teta da vaca. Em tempos de fartura de leite, o que geralmente ocorria logo depois das vacas darem criação, e em alturas de abundantes pastos, algum leite era reservado para a casa, sobretudo para os pequenos almoços ou para a confecção de alguma lambarice – como o leite creme que minha mãe ainda bem prepara - e o grosso era encaminhado para um dos dois postos de leite da aldeia, que ali o recolhiam em grandes bilhas de alumínio (mais ou menos parecidas com esta) e diariamente, da parte da manhã e da parte da tarde, eram recolhidas pelo homem do leite, numa camioneta (idêntica à recordada no artigo referente aos brinquedos da PEPE, mas coberta com uma lona), que o encaminhava para uma emblemática empresa do concelho, hoje já extinta e cujas instalações e terrenos deram lugar a um Shopping e a uma moderna urbanização.
Nesses tempos, e porque o grosso da população vivia da agricultura, em quase cada casa da aldeia existia pelo menos uma vaca leiteira e o resultado da venda do leite, a “quinzena”, porque era pago quinzenalmente, era um importante recurso para a subsistência das famílias. Hoje em dia, falando pela minha aldeia, certo de que o panorama é quase geral, exceptuando um ou outro caso já ninguém tem vacas leiteiras num contexto de ajuda à economia da casa, até porque o grosso dos campos de cultivo estão “a monte” ou a produzir apenas batata. Existem sim, alguns lavradores que têm pequenas explorações, tipo com uma dezena de cabeças, sendo o leite ali recolhido por métodos mecânicas, em ordenha privada, e despachado já não em bilhas de 50 litros mas por um camião cisterna que o encaminha para um empresa de lacticínios da região. Falo sem certeza, mas creio que esta recolha já há algum tempo que deixou de interessar à cooperativa local, estando esta transformada num mero posto de venda de produtos ligados à lavoura e não só, sendo mais uma espécie de drogaria. Adaptações aos tempos correntes.
Recordo ainda, nesse contexto, que durante muito tempo, e esta tarefa passava pelos irmãos mais velhos, que se sucediam uns aos outros, eu transportei duas vezes ao dia, de manhãzinha e ao fim da tarde, o leite produzido em casa para o posto, num percurso por carreiros e atalhos, com cerca de 2 quilómetros. Algumas vezes, na correria e na ânsia de regressar depressa à brincadeira suspensa, lá colocava o pé fora do trilho e tropeçava numa pedra ou raiz, esparramando o leite e as lágrimas. Depois, o castigo era certo e merecido e o cuidado passava a ser redobrado.
Tempos que já lá vão mas que sabe bem recordar.
Lembro-me de nos anos 60 ir buscar o leite de casa à Vacaria do Joaquim de Buchos na Trafaria, isto depois do leiteiro da terra ter sido preso por adulterar o mesmo.
ResponderEliminarJá mais recentemente, final dos anos 70 ia buscar o leite a Vacaria da Escola Agricola da Paiã na pontinha isto às portas de Lisboa.
Recordo bem as letras C P L L, nas garrafas mas sinceramente também não sei o seu significado.
Abraço
Carlos Caria
é Cooperativa de Produtores de Leite de Loures, que depois passou a UCAL
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